Planeta Sensu

Bem vindos terráqueos cibernautas. Tenham uma viagem sensucional.

terça-feira, dezembro 27, 2005

"O Informador", Poder Económico e Contra-Poder

Já em 1941, Orson Wells abordara as relações perversas que o poder económico e os meios de comunicação em massa predispõem. Através de "Citizen Kane - O Mundo a Seus Pés", o realizador apresenta-nos Charles Foster Kane, um humilde rapaz que se torna num magnata da imprensa através da sua dinâmica para o negócio. Tem dinheiro, detém cerca de 30 jornais e possui muita influência na sociedade.

"O Informador", filme realizado em 1999, por Michael Mann, retrata também como o poder económico é factor preponderante na actuação dos media. Consequentemente, permite esconder a verdade dos factos. O filme reproduz factos reais sucedidos em 1994 e demonstra-nos como o poderio financeiro de uma tabaqueira impediu que uma entrevista pusesse em causa as suas práticas pouco escrupulosas.

Jeff Wigand é um ex-empregado da "Brown & Williamson", que sabe que a poderosa tabaqueira, apesar de ciente que o tabaco é prejudicial e causa dependência, usa um elemento químico para aumentar, deliberadamente, o vício. Lowell Bergman é o produtor do "60 Minutos" e convida Wigand para uma entrevista que possibilite desmascarar o facto. Apesar de ter um acordo de confidencialidade com a "Brown & Williamson", aceita dar a entrevista.

Mas irão os americanos saber a verdade? Entre intimidações dos patrões da CBS, para que a entrevista não venha a público e notícias depreciativas da vida pessoal de Wigand, só a insistência e a "conivência" do "New York Times" com Bergman, permitem que Wigand seja uma fonte creditada e que a entrevista fosse revelada.

"O controlo dos media permite, com efeito, aos grupos financeiros e industriais intervir nos debates que atravessam a sociedade e nas relações de força que se estabelecem, como permite criar um clima de consenso social favorável aos negócios e pressionar sobre as decisões económicas dos governos e dos aparelhos políticos". 1

O filme demonstra bem como o jornalismo sério de denúncia, perante uma economia capitalista e global, encontra cada vez mais obstáculos de ordem económica, ficando, por isso muito aquém da sua função primordial de "guarda" social e político.

Efectivamente, as relações de grupos económicos com grupos mediáticos predispõem manipulação e corrupção dos factos. Um bom exemplo destas afinidades é os Estados Unidos.
Na "Land of the Free" (decerto, não se refere aos jornalistas), "Home of the Giants" (certamente, refere-se à administração Bush e às super-potências económicas), o poder político, as mega-empresas e os media "brincam" constantemente com a opinião pública, teatralizando a realidade através da ciência "Hollywooddesca" e arranjando acontecimentos novos e tentadores (o caso de Monica Lewinsky é um bom exemplo). A intimidação dos jornalistas também é prática corrente.

Em jeito de conclusão, os grandes grupos mediáticos necessitados de capital, vendem-se, facilmente ao poder económico que os alimenta. Também muitos jornalistas o fazem acatando as ordens do patrão, não relatando os factos imparcialmente, mas na visão que mais agrada tanto aos "amigos do patrão" como à sociedade.

Lowell Bergman e Mike Wallace são bons exemplos de jornalistas isentos e interventivos na sociedade de que fazem parte. Lutaram contra o factor económico, denunciaram a verdade dos factos e salvaram a vida a milhões de americanos. A tabaqueira foi, finalmente, obrigada a pagar milhões de dólares de indemnização.

Apesar de ser um caso raro de sucesso do jornalismo de denúncia, "The Insider" demonstra como o poder dos media, quando correctamente aplicado, pode ser usado como contra-poder.

1 - http://provedoralternativo.weblog.com.pt/arquivo/2004_07.html

quarta-feira, dezembro 21, 2005

13/06/2057

Os arruamentos estão adornados com neons e há altifalantes cinzentos em todas as esquinas, não tocando música natalícia, mas sim um som moderno, eclético e dançável. Nem o Messias nem o natal aqui existem.
Dionísio é a divindade e apenas há festas nas quais os dogmas são a fraternidade e a ciência cinesia. Os transeuntes albergam nos seus sentidos minúsculos dispositivos que lhes permitem realizar descargas de informação, a qualquer hora, em qualquer parte.
Uns preferem descarregar a simples distracção e desgraça alheia e amorfa que os grandes servidores internacionais lhes impingem e nada sabem acerca nem do mundo que habitam, nem da cultura que nele existe. Por outro lado, há os que subsistem e tentam cingir os seus downloads a, não só entretenimento saudável, mas também a programas educacionais e aculturadores, à informação real que lhes possibilite maximizar a sociabilidade e a vida profissional ao máximo, conhecendo mais acerca do mundo real no qual habitam.
Estes últimos, possuem capacidades como, noção de que nem todos estão em condições humanamente habitáveis, consciência política e educação para o futuro.
Os primeiros vivem num mundo cor-de-rosa, autómatos de um sistema mediático e económico, não tendo noção de que o mundo é multicultural e injusto.
O mundo nunca parou, a comunicação também não, a democracia sempre foi insolúvel e o comunismo e a anarquia nunca foram, nem nunca serão, a solução. Que fazer?
Downloads educacionais de realidade da realidade que permitam criar princípios básicos de respeito social mútuo pela diferença. Simultaneamente, descarregar festas onde a fraternidade seja a essência da mundaneidade. (continua)

terça-feira, dezembro 13, 2005

Opinião de um freguês da noite "cartaxera"

As saídas nocturnas no Cartaxo não tinham, até há bem pouco tempo, muitas opções. Para começar a noite, o ponto de encontro (que nostalgia!) foi e é quase sempre o Flamingo. Desde que mudou de gerência e de postura, tem vindo a degradar-se ao nível de, por exemplo, clientela menos agradável.

A partir da altura em que o mítico "Ponto de Encontro" fechou, as opções para continuar a rambóia, a seguir ao "Café Degredo", (como alguns chamam à actual "geração sem trocos e sem minis" do Flamingo) tornaram-se mais escassas: Esso (actual Tangerina), casa de alguém que esteja sozinho em casa, como é óbvio, Horta, ou outro qualquer sítio fora do Cartaxo (estes casos implicam gastar gasolina, o que não convém fazer embriagado, e dinheiro.)

Esta carência para continuar a curtição da noite cartaxense, terminou há umas semanas atrás, com a abertura do "Quo Vadis" de quinta geração, por acaso, simpatizei com a casa.

Ambiente arejado, não só na decoração, mas também na atmosfera menos fumarenta que nas gerações anteriores, um bom som, diversificado entre a década de 70 e 90, muitas caras conhecidas, cartaxeiras (e forasteiras também) esbeltas, cerveja fresquinha, boas tostas, enfim um sítio excelente para se curtir a noite até por volta das 4 da manhã.

Recentemente, fui também à "Enoteca", uma mistura de bar com tasca moderna que serve petiscos (moelas, chouriço assado e chouriço de abóbora). Apesar de ser mais agradável que o Flamingo, da primeira vez que lá fui tinha problemas similares: nem minis, nem trocos.

Também uma imensa nuvem de fumo pairava sobre as cabeças dos fregueses, fazendo lembrar as antigas noites do "Quo Vadis". Não sei porquê, gostei do ambiente pelo que, como freguês da noite cartaxense, dou nota positiva à "Enoteca".

Não podia terminar este texto mesclado entre rota (com alguma nostalgia das noites "Old School" e controlo de qualidade da noite cartaxense, sem antes referir uma casa que, embora seja diferente de um bar, é sempre uma passagem agradável.

Refiro-me ao Sr. Vinho, uma modesta tasca ao lado do Sr. Ezequiel (quem nunca cortou o cabelo no Sr. Ezequiel não é do Cartaxo), que serve um belo vinho de Vila Chã e um belo licor, já não me lembro de onde e tem matrecos a 20 cêntimos. Um abraço para o "chefe" do Sr. Vinho e para o Sr. Ezequiel.

Honda emprega funcionário robotizado

No que toca a inovação tecnológica, os nipónicos sempre estiveram muito à frente do resto do mundo nas mais diversas áreas, como a informática, a robótica e a inteligência artificial.

A mais recente novidade trazida pelo talento japonês é a criação de um robô humanóide, chamado Asimo. Depois de cinco anos em exibições pelo mundo inteiro, o robô conseguiu o que muitos humanos não têm neste momento: arranjar emprego. O inanimado robô está a exercer a função de recepcionista na Honda, em Wako, cidade situada a norte de Tóquio, recebendo os visitantes e servindo-lhes café.

O que eu penso disto? Desde que não se massifique a prática, substituindo seres humanos por autómatos inanimados, que nada mais fazem que dar respostas mecânicas a estímulos humanos, esses sim, realmente vindos de seres animados.

No futuro será necessário limitar a capacidade de intervenção da tecnologia na sociedade, para que o desemprego não cresça brutalmente e para que o corpo e a essência humana, se mantenham bem presentes na sociedade.

As máquinas não podem, na minha opinião, substituir duas coisas chamadas ser social e sociedade. Podem auxiliar, registar e ampliar muito a sua aplicação, mas substituir, jamais.

A Honda pretende fabricar mais exemplares do "Asimo" para utilizar noutros escritórios, ou para alugar pela quantia de 20 milhões de ienes (140.000 euros) por ano.

Os pequenos robôs que mais parecem meninos vestido com um fato de astronauta vão, certamente, tirar o emprego a muita gente sendo obstáculo à comunicabilidade que é necessária dentro das empresas.

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Rumo ao Decrescimento? Será Exequível?

Esta reflexão adveio da leitura de um artigo de Serge Latouche, "Rumo ao Decrescimento, Ecofascismo ou Ecodemocracia", publicado no "Le Monde Diplomatique" (edição portuguesa) de Novembro de 2005. Primeiro, reflictamos acerca da globalização e do capitalismo, especialmente na pacífica (ou não) época natalícia.

Nos dias que correm, as sociedades estão quase na sua totalidade, sujeitas aos dois processos, sendo praticamente impossível não estarem dependentes da maioria dos produtos que as superfícies de consumo, online inclusive, lhes disponibilizam. Podemos, no entanto, cingir-nos ao consumo dos produtos indispensáveis, não nos deixando levar ao consumo descomedido que as grandes superfícies comerciais e as enormes empresas mundiais pretendem que façamos, através do bombardeamento publicitários exercido nos media.

Em época natalícia, supostamente pacífica e solidária, o consumo global multiplica-se, assim como a artilharia publicitária, e todas as superfícies comerciais se aperaltam para o consumo abusivo exercido por clientes ansiosos pelas monstruosas compras de natal e por, no final, ouvirem a despedida final do empregado da superfície comercial: Adeus, Obrigado, Boas Festas!

Será que a maioria dos consumidores está consciente que o fabrico dos produtos, desenfreadamente consumidos, consome também ele recursos naturais, que um dia se extinguirão?

Recorramos então ao documento, refere este que o projecto de construção de sociedades mais autónomas e sem detrimento dos recursos encontra, actualmente, uma larga adesão e que, apesar de os seus defensores apresentarem medidas diferentes, todos admitem que é urgente atenuar a pressão ecológica, baseando-se no escrito de John Stuart Mill, no qual este refere que "Todas as actividades humanas que não impliquem um consumo irracional de materiais insubstituíveis ou que não degradem de forma irreversível o ambiente poderiam desenvolver-se indefinidamente. Sobretudo actividades que muitos consideram como as mais desejáveis e as mais satisfatórias - como a educação, a arte, a religião, a investigação fundamental, os desportos, as relações humanas - poderiam tornar-se florescentes"1

Alguém racional e consciente contesta a salvaguarda do ecossistema, do ambiente, da fauna e da flora?

Não me parece que alguém o faça, no entanto, para a maioria, não passa de um processo mental. É preciso passar à acção criando, segundo Serge Latouche, um decrescimento do consumo capitalista, de forma a desencadear uma sociedade "ecompatível", através de uma educação ecológica. Não estou ver nenhum político, nem nenhum presidente de alguma mega-empresa a alterar radicalmente o sistema económico que regula o mercado, de modo a encarrilar, finalmente, por um ecocapitalismo; estão demasiado ocupados com a gerência do governo e da empresa, esquecendo que a absorção desenfreada dos recursos, destrói, polui e devora o ecossistema. É necessário inculcar, globalmente uma consciência ecológica em todas as sociedades, criando simultaneamente pesadas coimas para os incumpridores.

Mas, não será isso extraordinariamente utópico? De facto é. Serge Latouche refere a resposta tradicional de uma extrema-esquerda. Evitando qualquer tipo de dogmatismo, que não permita a compreensão dos verdadeiros obstáculos que se levantam, o autor questiona se o primeiro passo rumo ao decrescimento não será adormecer os "gigantes capitalistas", causadores de todas as debilidades e impedimentos. Será possível conceber um capitalismo "ecompatível"? Latouche refere que, ainda que sendo teoricamente conceptível, é na prática fantasioso. Imporia normas vigorosas, que permitissem a redução da agressão ecológica. Deste modo, conclui o autor que, uma sociedade baseada no decrescimento não será exequível sem que antes se abula o capitalismo.

Mas para além desta abolição irrealizável, que mais poderá ser feito para reduzir a agressão ecológica? O autor refere medidas elementares que, através dos círculos íntegros do decrescimento, permitiriam avançar para um simples "programa reformista de transição", contendo medidas como:

-Reencontrar uma produção material igual à dos anos 60 e 70;
-interiorizar os custos dos transporte, relocalizando as actividades;
-restaurar a agricultura camponesa;
-estimular o fabrico de bens relacionais;
-abrandar o desperdício de energia a um quarto;
-penalizar fortemente as exorbitantes despesas da publicidade;
-decretar uma moratória na inovação tecnológica, realizando um balanço sério e reorientando a pesquisa científica e técnica em função de novas pretensões;

Refere, ainda, que este projecto se centraria no que chama, internalização das "deseconomias externas"2 que, em princípio, segundo a teoria económica rigorosa, possibilitaria a criação de uma sociedade de decrescimento. Utopia novamente? Já não tanto, como a abolição do capitalismo, mas ainda assim, não são medidas de fácil aplicação, pois impõem uma perversão do actual estado do mercado. Reduzir a produção material de mega-empresas originaria, com certeza, milhões de desempregados e prorrogar o desenvolvimento tecnológico impossibilitaria avanços ao nível da medicina, por exemplo.

O que fazer então para salvaguardar a defesa do ecossistema vital à sobrevivência? Não tenho resposta mais real e exequível do que a educação ecológica, criadora de uma consciência ecológica, o mais propagada possível e, também a adopção mais forte de diversas energias alternativas e renováveis, reduzindo progressivamente o consumo de petróleo. No entanto,
esta redução não é fácil de adoptar já que o ouro negro está demasiado intrínseco na sociedade e demasiado dependente de "Lobbies".

Se num futuro próximo, não aparecerem opções activas que permitam a modificação do actual estado das coisas, serão necessários grandes abalos ecológicos e que os recursos, actualmente em uso, se esgotem para finalmente se encaminhar, se não for tarde de mais, o modo de sobrevivência humana "produção". Até lá, certamente haverá muita azáfama consumista natalícia, muita produção, muito consumo, muita degradação "ecossistémica", muito enriquecimento para poucos e muito empobrecimento para muitos.

Adeus, obrigado, e boas festas para todos (acompanhado de um sorriso modelar ou continental de uma menina caixeira).

1 - Principes d´economie politique, Dalloz, Paris, 1953, p.297


2- Prejuízos engendrados pela actividade de um agente que os impõe à colectividade.